Mesa #009 - Fear of The Unknown

Daniel se sentiu aliviado ao ver que era apenas uma jovem mulher, por outro lado não sentiu sinceridade nas palavras da mesma, porém não ia fazer pré julgamentos. Voltou para dentro de sua barraca e se deitou, procurando recuperar as suas energias.

Conforme aumentava a intensidade de nervosismo e curiosidade dos sobreviventes no acampamento, Sawyer aumentava seu passo até se tornar uma corrida contida para chegar até o resto do acampamento. Isso pois assim como os outros, percebeu que se tratava de alguém vindo da floresta, pessoa essa que aparentemente conversava com um homem carregando um machado. Era uma cena até meio bizarra de se ver, mas assim como os outros, se manteve encarando a floresta na espera de qualquer coisa que viesse a seguir.

Após alguns momentos intensos de curiosidade, um intrigado Sawyer percebeu que agora o homem voltava para o acampamento na companhia de uma mulher. E aparentemente era uma sobrevivente do avião assim como eles, que conforme ela se aproximava da fogueira, lhe recordara vagamente dela em algum momento do voo. Afinal, era um belo rosto, ele jamais esqueceria tão fácil. De qualquer forma, não conseguiu demonstrar leve incredulidade com a forma inconveniente que a ruiva chegava, com a maior naturalidade possível e contando maluquices qualquer sobre a forma que ela parou na floresta e só foi se mostrar viva naquele momento. Após um breve questionamento do médico para ela, ninguém mais pareceu disposto a falar nada, o que de forma mínima indignou Sawyer.



— Está bem. Agora que a Carrie voltou da festa sã e salva, podemos seguir nossas vidas tranquilamente — Falou de repente, tomando a atenção para si por um momento. Esbanjava um sorriso falso e forçado, ironizando a situação. Voltou a ficar sério rapidamente. — Qui' conversa é essa, garota?! O qui' é que tá 'contecendo com você?! — Devido ao inconformismo de como a garota estava agindo, já que a mesma não parecia nem um pouco recém envolvida num acidente aéreo, nem mesmo num desmaio e outras maluquices que ela havia dito há pouco.

O tom de voz de Sawyer não era irritado, mas de qualquer forma deixou escapar de forma notável o seu sotaque do Sul num curto momento em que aumentou a voz, talvez por estar tentando parecer muito mais velho que a mulher. Numa transição quase impercebível para sua expressão sarcástica que se mostrava claramente duvidoso e questionante sobre a garota. Dessa vez se virou para o acampamento, checando se ao menos algum deles também achava aquilo estranho:

— Me dá uma ajudinha aqui, doc, você é o especialista. — Era quase impossível dizer se Sawyer aumentava seu interesse naquilo tudo ou se realmente achava algo de estranho naquilo. Até mesmo séria sua expressão passava um ar de meio sorriso sarcástico. — Será que ela sofreu algum trauma pós-acidente ou coisa do tipo? Alucinógenos? — Atuou uma cara de preocupação contida quando sugeriu por sarro a última.

Aguardou uma resposta, não só do médico, mas também de todos do acampamento. Ele veria o que todos pensavam sobre aquilo conforme suas reações e desinteresse no que acontecia em volta daquela fogueira.

— Nada do que ela falou faz sentido e a atitude dela é, de fato, suspeita... eu também não posso julgar o estado dela só olhando. — Andrew suspirou. — Nem creio que ela gostaria de ter uma consulta médica por acharem que é louca. Então, bom, se ela diz estar bem, e ela aparenta estar bem, contanto que não faça nada de errado com alguém aqui, eu não me importo.

— "Fazer algo de errado com alguém daqui" — ela repetiu, com um meio sorriso já não tão amistoso. — Vão me acusar de ser bruxa e me jogar na fogueira? Se forem fazer isso, eu ficarei muito brava se não me derem pelo menos um snack antes. E um copo de água — ela deu uma pausa. Estava calma. — Eu também achei estranho. Talvez eu tenha algum problema mental, ou sonambulismo, quem sabe? Mas tanto faz. O avião está seguro? Porque quero pegar minha mala.

Sua barraca estava no perímetro do acampamento, garantindo uma boa visão de toda a situação que decorreu numa pequena roda em torno da fogueira contendo quase todos os sobreviventes. Dada a nula competição entre sons que circundavam o local desconhecido, conseguia ouvir com nitidez tudo o que era dito entre os integrantes do grupo. Pensou, por um momento, em aproximar-se caso uma interação promissora acontecesse e houvesse a necessidade de um contato mais próximo para aproveitá-la, mas ponderou ao escutar o homem loiro e, em seguida, a moça de cabelo colorido que, em sua avaliação primária, mais parecia uma adolescente em seu estado da arte.

— Diga-me quem escreveu este roteiro. — Disse, em um tom que denunciava uma externação de um pensamento. — Ele é uma porcaria.

Ficou na expectativa por uma reação de Aurora, qualquer que fosse.

— Aparentemente sim — respondeu Andrew.

Depois que a mulher foi embora com alguém, o Shephard aproveitou-se da aglomeração para falar:

— Antes que cada um siga sua vida, eu queria avisar que amanhã eu pretendo entrar na floresta e explorar um pouco dela — anunciou. — Se alguém quiser vir comigo, está livre para decidir. Por mais que olhemos pro horizonte, esse lugar não parece uma ilha. Eu acho improvável que tenhamos caído perto de New York, mas nada diz que é algum lugar inabitado ou tão longe de uma cidade.

Aurora olhava para a fogueira, longe, ao lado de Stéphane.

— Não há um roteirista — ela respondeu, tentando adivinhar o que o ator estava tentando dizer. — Humanos são donos de seus próprios destinos. Esse roteiro é culpa nossa. De todos nós.

Então ela olhou para o céu, para as estrelas e para a via láctea.

— Eu nunca deveria ter aceitado visitar a minha mãe.

A garota se mostrava mais madura do que qualquer um pudesse imaginar. Quem pensaria que no alvorecer de sua adolescência ela já carregaria pensamentos tão sólidos e reflexivos?

Stéphane tinha curiosidade para saber sobre a família de Aurora pois, se conseguissem sair dali, seria confortante saber que a garota teria amparo em outras pessoas. Todavia, não sabia como abordar o assunto diante do ser fragilizado pela tragédia, portanto o desabafo sobre a mãe veio em um momento oportuno.

— Não há dúvidas que como espécie mereçamos experimentar coisas do tipo. — Tinha a sensação nadar em águas muito profundas, porém achou necessário concordar com Aurora para prosseguir com a conversa — Sua mãe, você gosta dela?

— Não muito — Aurora respondeu. — Ela nos visitava de vez em quando. Mas eu sabia que meu pai não gostava dela. Só não sabia o motivo.

Stéphane e Aurora conversaram mais um pouco antes de dormir. A garota agradeceu o homem por poder contar com ele caso se sentisse sozinha. Disse que, caso conseguissem sair dali, legalmente iria ter que ficar com a mãe. Pelo menos era o que ela achava.

Laura falou para Stanley que era melhor guardar o sinalizador para depois, que talvez apenas a fogueira fosse um bom sinal, já que atraiu Maria através da floresta. Sem muita conversa, a maior parte dos sobreviventes resolveu dormir e se preparar para o dia seguinte, onde iria haver uma exploração da floresta.

Amanheceu. Às seis horas em ponto, quase todos os sobreviventes que não acordaram haviam despertado com a música Heroes, de David Bowie, vinda de algum smartphone. Posteriormente a música foi interrompida.

— Acho que está na hora — disse o dono do celular, o jovem homem de olhos claros, saindo da sua tenda e se espreguiçando.

As pessoas começaram a se preparar para a exploração.

Andrew se preparou, botou algumas coisas básicas em uma mochila que achou dentro do avião (notou que havia muito menos coisas ali do que deveria) como uma garrafa de água e etc, seu celular que estava bem carregado ficou no bolso e, por fim, ele estava com o machado em mãos por precaução.

Começou a andar em direção à floresta com seja lá que time fosse lhe acompanhar.

Daniel acordou e ficou um tempo dentro de sua barraca até notar a movimentação do lado de fora. Curioso pelo que estava acontecendo, se dirigiu até a barraca ao lado, onde se encontrava o rapaz que havia perdido a mãe no acidente:

— Com licença, você sabe qual o motivo de toda essa movimentação? Acabei dormindo e não sei o que foi discutido na noite anterior. — Perguntou com um com um pouco de receio devido a aura intimidadora do rapaz.

Soltou uma risada breve e debochada e após a situação esfriar, todos foram dormir para fazerem uma trilha ou coisa do tipo, no intuito de explorar a floresta.

Surpreendendo a todos, Sawyer apareceu lá cedo e atravessou o caminho de todos que iriam, tomando a frente com uma expressão séria e neutra. Iria junto nessa exploração.

Estava acordado, vendo se o meu celular conseguia pegar qualquer sinal, quando o asiático puxou a lona da minha barraca e me fez cerrar os olhos um pouco, pela claridade súbita. Depois da pergunta, saí da barraca e fiquei ao lado do rapaz, observando por um segundo a movimentação, para depois o responder.
─ Ouvi algo sobre uma exploração pela floresta, antes de dormir ─ virei a cabeça para o lado e encarei o rapaz por um momento. Ele era bastante jovem, qualquer fosse a idade dele eu diria que era uns 4 anos mais novo. Também tinha traços de abatimento no rosto, como quase todos. ─ Você não vai?

Daniel ficou mais relaxado pela resposta tranquila do rapaz, ele era um pouco mais baixo que ele, porém mais robusto, então prosseguiu:

─ Ah, no momento não estou em condições, iria só ser um peso morto, desde o acidente não consigo pensar em mais nada a não ser na imagem dos corpos. ─ Respondeu enquanto mexia em sua raquete. ─ E sabe como é, né? Prefiro me manter em um lugar seguro no momento, vai saber o que tem nessa floresta. ─ Finalizou com um sorriso sem graça enquanto encarava o rapaz.

─ Aliás, qual o seu nome? ─ Perguntou com um leve sorriso forçado.

─ Se aquela mulher foi e voltou sozinha, intacta, talvez não seja tão perigosa ─ respondi ao comentário do rapaz. Minha expressão ainda era morta e sem vida, mas não conseguia me preocupar em me parecer simpático para alguém. Estendi a mão. ─ Vince.

Daniel estranhou num primeiro momento, não é comum cumprimentar com aperto do mão ou qualquer outro tipo de contato na Coréia, mas prosseguiu:

─ Oh, Daniel. Kang Daniel. ─ Respondendo o aperto de mão. ─ Eu não gosto de fazer pré julgamentos, mas não consegui sentir sinceridade total por parte dela, vou aguardar o grupo retornar para ter alguma noção do que se tem na floresta.

A noite já havia caído quando Richard conseguiu montar algo que se assemelhava a uma barraca. Recusara qualquer oferta de ajuda insistindo em montá-la sozinho, mas por fim conseguiu fazê-la ficar em pé, mesmo que um tanto quanto torta. Ele se convenceu de que tinha um toque pessoal. Não prestara muita atenção na movimentação com a moça dos cabelos vermelhos perto da fogueira, focado em sua missão de construção, mas ouvira de relance algumas conversas sobre entrar na floresta para explorar no dia seguinte. Ele sabia que iria e sabia que alguns poderiam se opor, então se manteve calado. Quando a barraca parou em pé, pegou um dos pacotinhos de biscoito para matar a fome e foi dormir cedo, não queria correr o risco de não acordar no dia seguinte.

Ele não sabia porquê ninguém acampava na Inglaterra, era realmente divertido.


O sol recém surgia quando foi acordado pelo som de alguma música. Richard saltou e abriu sua barraca, enfiando a cabeça para fora. Seus olhos se espremeram, em raiva, fitando o maldito.

— Acho que está na hora — o rapaz disse, com o aparelho em mãos. Duas frases. Havia o visto pronunciar duas frases em voz alta, e já o odiava profundamente.

Ele fechou a barraca novamente, irritado, e se pôs a preparar a mochila.


Dez minutos se passaram, e ele saltou novamente, desta vez para fora da barraca. Se espreguiçou, respirando fundo o ar puro da manhã e suspirando com leveza. Richie usava uma jaqueta camuflada pelo menos duas vezes o seu tamanho e tinha uma bandana amarrada na cabeça. Havia assistido Rambo II, uma vez. Tão logo saiu e já viu o grupo que se dirigia a floresta: o médico que checou Arnold, o negro da barraca perto da sua, um loiro com cara de surfista, uma mulher de cabelos curtos e o maldito do celular. Um pequeno desânimo o abateu ao notar o último, mas logo se recuperou, jogando a mochila nas costas e caminhando com firmeza até onde eles estavam. Ele juntou um graveto e atravessou o caminho de todos, inclusive do loiro que havia tomado a frente.  

— Richie, prazer. — falou, cravando o graveto na areia e fitando a floresta com uma expressão empolgada. Ele virou o rosto para os cinco com um sorriso no rosto. — Vam'bora?

Última edição por Dwight em Dom Jul 21 2019, 23:40, editado 1 vez(es)

─ Pra ser sincero, também não senti ─ respondi, olhando aqueles que se preparavam para a exploração. ─ Muito tranquila para quem acordou sozinha numa floresta e não sabe como foi parar lá. Não sei qual outra reação ela esperava dos outros sobreviventes, nós acabamos de cair num lugar qualquer e pessoas morreram ─ me virei de volta ao rapaz. ─ Estava sozinho no voo?

Andrew arqueou uma sobrancelha ao ouvir tudo aquilo de Eli, sentindo que o restante teria uma reação parecida.

— Você já sobreviveu a outra queda de avião e não contou a ninguém? — perguntou com um sorriso pequeno, achando curioso toda aquela sabedoria do homem, mas não realmente julgando-a já que tudo que sabia dele era seu nome.

Eli não respondeu porque uma sexta pessoa se juntou à eles com um sorriso no rosto.

— Ei, ei, ei. Pra onde você acha que vai, garoto? — perguntou Andrew caminhando até o garoto vestido com uma cortina.

— Eu achei que você ia decidir... Eu 'tô na liderança então!?? — perguntou, um tanto confuso, mas com uma fagulha de excitação queimando dentro de sua pupila.

Sorriu e pensou em dizer algo, mas foi interrompido pela aproximação que o fez cessar seu passo junto ao doutor. Lançou um olhar inquisitivo ao garoto, de início com uma expressão séria, mas que logo deu lugar ao sorriso de antes, que denunciou sua reação a iniciativa do garoto. Se identificava como Richie, mas ele já se lembrava dele de ontem como sendo o garoto da barraca. Lembra que ele estava tendo problemas para montá-la, mas que mesmo assim recusava a ajuda dos adultos e continuava tentando descobrir a forma de fazer aquilo por conta própria, embora Eli tenha notado as vezes em que o pegou o assistindo montar a sua, provavelmente tentando aprender por observação. O resultado de Richie não foi dos melhores, mas ao menos ele teve um teto sobre sua cabeça durante a noite, e o conseguiu sozinho. 

Cruzou os braços e deu uma olhadela para Andrew, continuando em silencio e vendo como aquilo se desenrolaria. Ainda estava um pouco incerto sobre o que pensava do garoto ir ou não, e queria ver o que ele diria em sua própria defesa antes de tomar a decisão.

— Líder... quê? Hã? — Andrew estava visivelmente confuso com a "inocência" e empolgação do garoto em sua frente. — Não, não. Você vai voltar pro acampamento e devolver a capa da barraca de quem você pegou — falou enquanto empurrava o garoto em direção à praia, sem violência. — A floresta não é o melhor lugar para uma criança.

Ele se desenvencilhou, um pouco irritado, mas completamente impassível. — Cair de avião sozinho numa ilha deserta também não, mas olha só para mim... E eu não sou criança! — ele franziu as sobrancelhas, como sempre fazia quando irritado, apontando para o rapaz do celular. — Por que tu não implica com o chato ali também? Além do mais, é só uma floresta! Duvido que tenha qualquer coisa aí dentro pior do que nas ruas da Inglaterra. — "E uma vez eu vi Rambo II", ele pensou, mas se segurou antes de falar.