As horas se passaram. Os passageiros, agora sobreviventes de uma tragédia misteriosa, resolveram explorar o avião em busca de seus próprios pertences e outros itens que poderiam vir a ser úteis, como comida e ferramentas. Na aeronave, encontraram com facilidade uma boa quantidade de comida e de bebida. A comida era basicamente industrializada, com snacks, bolinhos, doces e salgados. Havia café frio, chá, água e refresco como possibilidades de bebidas. Dividiram a comida e a bebida igualmente para cada sobrevivente. Andrew, o médico, garantia que a ordem fosse estabelecida e que não fossem cometidas injustiças, embora de forma implícita. Além disso, ele disse o quanto era importante que economizassem os alimentos, pois o resgate poderia demorar dias ou semanas. Ou até mais.
Um homem (que se identificou como Stanley Barnes) encontrou um sinalizador; uma arma vermelha com 3 balas que poderia ser a chave para o resgate de todos eles. Após uma discussão de comum acordo com os sobreviventes, decidiram esperar a noite para usar uma das balas e fazer a primeira tentativa. Stanley ficou com a arma junto com as suas coisas.
Os seus celulares não possuíam sinal. O GPS simplesmente não funcionava. Tudo que eles conheciam por tecnologia parecia estar desvanescendo. Começaram a armar barracas e lugares onde poderiam dormir na praia, ao longo que estava próximo do sol se pôr e o frio aumentava. Enquanto isso, Andrew observava a situação de Louis, que continuava deitado e sem muito movimento. Não havia falado mais nada, segundo a filha, desde que caiu.
Andrew percebeu que o homem estava com uma febre alta e seus batimentos cardíacos estavam demasiadamente altos. Apesar de mais doses de analgésicos terem sido dadas, ele não parecia melhorar. Em um dado momento, Louis segurou o braço do médico, que se assustou um pouco com aquilo. O enfermo abriu os olhos e olhou para Lincoln.
— Não... não deixe Aurora morrer, Shephard — Louis disse, enquanto segurava o braço de Andrew. Após alguns minutos, sem falar nada e apenas tossir ocasionalmente, o homem parou de respirar. 17h30 fora a hora de sua morte, segundo o relógio do médico.
O sol estava se pondo. Aurora havia saído momentaneamente para pegar o seu snack do avião. Andrew não precisou dizer nada. A garota não fez nenhum som, mas as lágrimas desciam dos seus olhos. Sentou-se, em silêncio, ao lado do pai. Comeu seu lanche enquanto observava o sol se pôr. Seu rosto brilhava onde as lágrimas passavam.
***
Os sobreviventes decidiram fazer uma fogueira para aquecer o grupo. Usando um machado encontrado no avião, cortaram lenha da superfície da floresta e trouxeram para o grande fogo. A temperatura estava mais baixa do que esperavam de um verão. Precisavam usar casacos e roupas quentes para não tremer de frio.
Quando finalmente o dia se tornou noite, quem olhasse para o céu veria uma imagem quase mágica. As estrelas eram muito mais numerosas, visíveis e brilhosas do que jamais viram, mesmo para quem viveu em zonas rurais e isoladas de grandes cidades. Quem observasse atentamente, veria o rastro da via láctea, cortando o céu e abraçando o cosmos. A lua, apesar de minguante, brilhava como se estivesse na metade da sua distância até a Terra, mas com o mesmo tamanho.
O vento era forte e frequente; fazia as folhas das árvores baterem entre si e reproduzir um som quase harmônico. Não era raro pertences leves dos sobreviventes acabarem voando para longe devido ao vento. Na floresta, havia uma névoa misteriosa. O tempo era frio.
Laura havia feito sua barraca com pedaços de madeira e de tecidos que os outros sobreviventes encontravam e compartilhavam com os outros. As outras pessoas faziam o mesmo. Apesar do silêncio entre todos eles e a falta de conexão, fizeram barracas umas próximas às outras, para se beneficiar do calor da fogueira. Até mesmo o fumante solitário fez seu pequeno lar próximo ao grande grupo, embora continuasse sem palavras e sem interação com os outros.
O homem que havia perdido a esposa e a filha devolveu seus corpos ao avião, que havia se tornado uma espécie de cemitério. Ajudou a cortar lenha, mas olhava com estranheza para Andrew sempre que o via, com uma expressão séria e obscura. Não falou mais nada sobre o assunto.
Alguém ouvia uma
música em seu celular, no auto falante. Era alto o suficiente para ser ouvido no acampamento por ouvidos atentos, mas baixo o suficiente para que não incomodasse tanto.
***
Quando foi buscar lenha, Stanley Barnes ouviu um barulho diferente na floresta. Usava um óculos e roupas razoavelmente formais. Parecia ter cerca de trinta anos. Soltou os pedaços de madeira que segurava e correu para o que poderia ser chamado de acampamento na praia.
— Ouvi alguma coisa na floresta — ele disse, alto o suficiente para que todos ouvissem, quase sem fôlego e cansado com a corrida. — Passos nas folhas. Ali — apontou.