É um ensaio pequeno e denso que busca ler, da ótica socio-filosófica, as principais doenças mentais causadas pela atual conjuntura da sociedade, como depressão, TDAH e Síndrome de Burnout. E o faz com precisão assustadora, para um livro de dez anos atrás.
A partir do começo do século XXI, quando evoluiu da sociedade da disciplina, da relação submissa bem definida de chefe e empregado, senhor e escravo, a humanidade foi acometida pela onda de positividade contemporânea: o lema é “nós podemos”, não há limite para a ação, a liberdade é plena e o empreendedorismo individual está em alta. Todos são chefes e funcionários de si mesmo, e o “eu” é uma empresa na qual o indivíduo dessa sociedade de desempenho investe pesadamente, sendo gratificado com ilusórias sensações de liberdade e autorrealização. Ilusórias pois o indivíduo não está liberto de nada, está preso na constante busca narcisista à melhor versão de si mesmo e nunca atinge a autorrealização.
Esse panorama gera expectativas e competições interiores que jamais culminam em coisa alguma que não o cansaço, que não as doenças neuronais como depressão, TDAH e Síndrome de Burnout. O autor ainda defende que esses transtornos não são resultado do acúmulo daquilo que é negativo, mas daquilo que é positivo: informação, projetos, autorrealização, poder, multitasking, motivação, expectativa, e por aí vai. A internet agrava tudo.
Se tudo o que se vivencia é positivo em demasia e não existe equilíbrio entre o positivo e o negativo, o cérebro aos poucos recompensa cada vez menos com bem-estar. E isso é notável, basta ficar dias sem fazer aquilo que se gosta, ou sair da zona de conforto. Ao retornar, a sensação de recompensa é muito maior. Aplicando-se isso à escala macro da sociedade do desempenho, dos projetos de vida e metas utópicas, das aparências, da multitarefa, tem-se “zumbis saudáveis e fitness [...] por demais mortos para viver, e por demais vivos para morrer”. Talvez o progresso, a igualdade, a facilidade, a amplitude de possibilidades não sejam sinônimos de um mundo definitivamente mais saudável. Cada vez mais nossas doenças deixarão de ser imunológicas para se tornarem psíquicas.
Para citar o autor: “A sociedade disciplinar ainda está dominada pelo não. Sua negatividade gera loucos e delinquentes. A sociedade do desempenho, ao contrário, produz depressivos e fracassados.”