A premissa inicial, de que era só um cara pirando, vendo o próprio senso de realidade ruindo aos poucos na frente dele e sem poder fazer nada a respeito, já foi mais do que suficiente pra me prender. O filme por essa ótica tava sendo sinistríssimo, acho que muito mais se todos aqueles acontecimentos fossem algo sobrenatural igual a um filme de terror comum. Dava pra realmente se botar no meio daquelas situações e se sentir cagado por isso, porque alguém pirando realmente pode ver coisas desse gênero. Os visuais das visões do macabro são realmente do caralho, vi muita gente no filmow citando Silent Hill e notei essa semelhança estética mesmo, além de todo o conceito de estarem relacionado com as perturbações psicológicas do protagonista. Sinistríssimo.
Ali pro meio foi introduzido de volta os caras da unidade dele no Vietnã, e aí essa parte de conspiração do governo entrou na história e botou em questionamento toda a parte de "ser só uma piração". Eu tava achando que a parada foi introduzida meio rápido, e talvez ficasse meio mirabolante se procedesse nisso, mas ainda tava sendo possível muito daquilo ser mais paranoia. Talvez a mente perturbada do cara tava começando a criar essas conspirações, então acho que isso ainda foi deixando tudo mais intrigante. Tava sendo interessante tentar imaginar quais cenas realmente eram "realidade" e quais talvez fossem só fruto da imaginação dele.
Ai a aparição do químico pareceu vir pra solidificar mais a ideia de conspiração de governo, e foi meio como já um plot twist ver que o tal ataque no vietnam foi um motim insano. Apesar de meio mirabolante, eu comprei a ideia e tava achando sinistro a parada que tinha acontecido — foi interessante parar pra pensar nas visões macabras que ele tava vendo e tentar correlacionar elas com esse evento, embora obviamente algumas coisas não estivessem encaixando. Além de todo o contexto da parada ser muito sinistro, com esse cenário de guerra, isolamento, pessoas convivendo numa situação extrema, violência e medo da morte diário, e com algo quase sobrenatural acontecendo em volta deles. É um contexto de horror fudido, e dava pra tranquilamente existir uma história do caralho só nisso.
É foda que realmente todo esse subtexto de que ele já tava morto, e a parada religiosa esteve presente desde o começo, mas o filme foi muito bem em conseguir me distrair disso e não me fazer pensar por esse lado. Em nenhum momento eu sequer considerei que o cara podia tar morto/morrendo, então quando veio essa informação no final, me pegou totalmente de surpresa.
Foda que tem toda essa pira hoje em dia, de que um final em "que tudo foi um sonho" é uma merda e batido, mas sei lá, esse aí funcionou muito bem. Trouxe toda uma nova gama de profundidade pra todos os acontecimentos do filme automaticamente, e te fez voltar e pensar neles, em significados de cenas, diálogos e personagens. Fiquei toda aquela cena final, do corpo dele na maca, até o créditos só repensando o filme inteiro.
Prime escreveu: Spoiler :
Eu não acho que foi tudo uma bad trip "pré mortem", acredito que existe um diálogo com religiosidade e que os acontecimentos do filme se passam numa espécie de purgatório. Ele tá tentando resistir e os demônios tão tentando levar ele. Essa frase é muito imponente e explica tudo: "If you're afraid of dying, and you're holdin' on, you'll see devils tearin' your life away. But if you've made your peace, then the devils are really angels, freein' you from the world. It deppends on how you look at it". O quiropraxista dele era o anjo dele, tentando ajudar. É por isso que, logo depois do filme mostrar aquela sequência de um suposto hospital no inferno e da agulha na testa, o Louie aparece pra tirar o Jacob dali.
Para os demônios que o queriam no inferno, Jacob não podia ficar sabendo do que aconteceu de verdade, porque isso significaria que ele estaria em paz consigo mesmo e com o que aconteceu. Eles precisavam que o Jacob fosse daquela pra melhor por meio da entrega à loucura e ao delírio. É por isso que o químico fala "aqui é perigoso, não podem nos ver" quando os dois finalmente se encontram. Jacob só podia "ir para o céu", como aconteceu no final, se conseguisse paz: "it depends on how you look at it", ou seja, o destino dele, céu ou inferno, só dependia de uma tomada de perspectiva, da paz interior, da compreensão dos fatos que o levaram até ali - ou, por outro lado, da total entrega aos demônios. Fiquei satisfeito que no final deu tudo certo pra ele e ele foi ver o filho morto, o único da família dele naquela casa, que era o céu. Assim como todas as outras diversas metáforas, foi muito bonito ver que ele subiu a sua própria escada, ao invés de descer.
Acho que a tua interpretação foi bem acurada mesmo, eu só não fico totalmente convencido que o elemento religioso é 100% factual ou não. Pode ser, mas acho também que pode ter sido só uma bad trip pré mortem, e todo esse processo interno foi só talvez uma forma da própria consciência dele estar aceitando a morte que estava por vir. É sinistro porque coisas assim pode realmente rolar, vai saber o tanto de processos químicos malucos que o cérebro libera num momento extremo desses — talvez aquela máxima de tu ver a vida inteira passando como um filme diante dos seus olhos procede dessa forma mesmo.
Sei lá, bem interessante essa porra toda.