Nunca tive muito contato com o humor britânico mas sempre vi referido como o mais sarcástico e mórbido, e esse filme é bem isso, nas partes que usa. A atmosfera é tão depressiva que, por mais entretido que eu estivesse, e por mais que eu curta essa ideia do protagonista ser essa dialética socrática niilista andante, eu não via a hora daquela história acabar logo, saber a conclusão. Até porque a ambientação londrina nublada, insaturada, dessa mesmice arquitetônica com ruelas constantes já te traz essa melancolia, que transparece em cada personagem - são todos apáticos, até o vigilante "gente boa"; não se gosta de nenhum deles pelo carisma, nem acho que é intenção do filme te fazer gostar ou sentir empatia por algum deles.
E no que tange a personagens, eu acho que é uma hipérbole intencional do esteriótipo britânico, e não um desenvolvimento mal feito ou inacabado. Nem sempre a intenção é construir um personagem, ele pode ser só aquilo e pronto, e eu gostei do que o Johnny é, mesmo sendo um sabichão desprezível que afasta todos no final. Apesar de afastar todos, ele sempre consegue o que quer no ínterim, ou seja, o filme ilustra esse masoquismo das interações sociais: o cara pode se abster de quaisquer escrúpulos ou filtros, mas no fim o outro personagem sempre está ouvindo ou fazendo o que ele quer, seja dando abrigo, fazendo um favor pra ele ou dando pra ele, no caso das mulheres. Eu não sei se é uma discussão proposta pelo filme, mas é como o Guliel falou, esse lado podre feminino é uma temática abordada: ele praticamente estupra as mulheres e elas acabam apaixonadas.
São as desventuras tragicômicas de um bad boy sabichão britânico inconsequente. Não que isso seja um resumo pejorativo, porque eu gostei, dei risada e filosofei junto na cena foda do vigilante.