Todo mundo precisa amadurecer um dia, e isso pode acontecer de diversas formas, ao passo que pode não acontecer em razão de diversas outras coisas. Sexualmente, o protagonista ficou pra sempre preso à adolescência quando a namorada morreu, mas apesar disso (na minha opinião), o filme não correlata esse evento com suas devidas consequências mentais da melhor forma de modo a fazer a audiência simpatizar com o protagonista - ao invés disso, usa da própria voz dele pra reiterar duas ou três vezes sobre o "fantasma da juventude" que causou tudo aquilo. Pra mim, seria mais eficiente desenvolver essa tangente ao invés de exclamar "ele é pedófilo, olha!" ao entregar de prontidão um personagem que prefere dopar a mãe gostosa do que comer ela. Nesse quesito, pra mim pareceu pouco natural, forçado: a princípio te é apresentado um adolescente abalado com a morte da amada, e alguns minutos depois, ele é um pedófilo aliviado ao saber que aquela vaca da mãe da ninfeta morreu e que eles finalmente podem ser felizes juntos. A distância entre panoramas é gigante. Como o protagonista faz questão de evidenciar duas ou três vezes durante o filme, toma-se como verdadeira a correlação pós-traumática, mas não vi força em razão do subdesenvolvimento dessa ideia, a ponto de diminuir, aos meus olhos, a motivação do protagonista, sobrando só um pedófilo doente comum. Apesar de criticar esse aspecto, consigo ver a relação e consigo entender o raciocínio usado pelo filme. E ao contrário do que vi dizendo por aí, o personagem sabe sim que é um pedófilo, ele até mesmo fala isso.
Além disso, achei de um ritmo bastante cansado, não tanto em termos de roteiro, mas de personagens. A Lolita é uma tentativa de conciliar os dotes sensuais da jovem idade com a relembrança de que ela ainda não passa de uma garota de 14 anos - e a balança sempre pende para um lado, me fazendo questionar, nos momentos contrastantes nos quais ela se despia dos maneirismos juvenis pra se tornar uma ninfeta safada, se eu tava assistindo algo que era só pra chocar ou se existia alguma moral-da-história além (ou se poderia ter, até). E o protagonista adora quando dá bom, mas mostra a outra face quando não consegue lidar com a situação, levando a mais uma briga e uma resolução com mais cenas (algumas vezes sexuais) desconfortáveis. Tudo isso matou a cadência, pra mim.
Tecnicamente é perfeito, bem escrito, boas atuações e boa cinematografia. O mistério em torno do Quilty foi uma entrelinha muito interessante, bem como a resolução e a parte final do filme, que foi a melhor pra mim. Não entendi como “romantização” de um crime/distúrbio, até porque histórias podem ser contadas sobre quaisquer coisas, e a razão da existência de uma motivação ou desenvolvimento de personagem é de caráter literário, não de justificativa. No entanto, é possível entender alguém que vá odiar o filme em razão do tema que aborda.