Porra bicho, começou pesado. Vou copiar o que comentei no filmow.
Spoiler :
O filme é simples, mas alcança a perfeição na sua simplicidade. Todo mundo, cedo ou tarde, vai alcançar o fundo do poço, é inelutável; e o Anders representa esse momento que todos nós, - uns mais, outros menos, - inevitavelmente passaremos. Solidão, insegurança, a falta de um motivo para ser. É rotineiro, cotidiano, não empurra um monte de citação bonita cheia de filosofia barata, é simplesmente comum como a vida.
A primeira grande interação dele fora da rehab, com o Thomas, mostra tudo que ele deveria ser pelos padrões: um cara de 30 e poucos anos, pai e empregado, comprimido pelo trabalho e pressões da vida, com filhos ranhentos e uma mulher que não transa, "que se senta e finge que está se divertindo", onde o maior entretenimento é ficar em casa jogando Battlefield. Uma vida patética que, para ele, não é suficiente, e por isso ele não cabe em lugar nenhum.
Fiquei perdido por um bom tempo na questão da Iselin, a ex-namorada, mas entendi que era algo que ele não conseguia deixar para trás. O amigo dele insiste que com ela era diferente, que ele a amava, mas ele nega, diz que não representa mais nada pra ele e que foi nesse momento que começou a se drogar. Mas mesmo assim liga constantemente para ela, incapaz de recomeçar.
E não é só ele que é incapaz, da mulher do melhor amigo ao drug dealer, a primeira coisa que todos perguntam é se ele está limpo, é um fantasma que vai acompanhar ele pra sempre, inclusive com as pessoas que nem o conheciam vide a gostosinha 10/10 e a entrevista de emprego, o passado é importante e a sociedade é insensível.
"'Vai passar, tudo se arranjará...' só que não é verdade." é de longe a melhor cena do filme, e resume tudo que ele sente ali. Ele não pertence a lugar nenhum, é um estranho até entre amigos, não tem mais família, não se encaixa na quase-perfeita Oslo que o filme tanto descreve. E ele precisa dos vícios para preencher, - ou esquecer - o vazio que enfrenta. Em primeiro momento achei que, apesar de não glamorizar, o filme também não deixava exposta as mazelas desses vícios, podendo passar até uma imagem de libertação neles, mas não é essa a doença que ele retrata. A depressão, melancólica e sorrateira, é muito bem representada, tirando a vontade de viver onde não se pertence e apresentando uma falta de sentido em existir.
Quando ele conta que cogita se matar, e se o fizer é uma escolha dele, a primeira coisa que o amigo faz é tentar fazer ele sentir culpa, falando dos pais, e isso é uma resposta muito natural de qualquer pessoa nessa situação. O final não podia ser positivo, ele não podia ser feliz e destoar do que foi apresentando nos 90 minutos anteriores, precisava ser real. Ele não caiu no final, porque sempre esteve no fundo. "Se alguém quer se autodestruir, que lhe seja permitido", e por mais que ele próprio saiba que retroceder não é a solução, não há nada mais lá para ele.
Ator principal sensacional, dei 4.5/5.