Os Sete Reinos tornaram-se uma verdadeira bagunça naquelas últimas semanas, o anunciar da sobrevivência e ressurgimento de um Targaryen colocou medo em muitas famílias, e dúvidas no dobro, aquela guerra iniciara-se pouco depois de outra, muitos prejudicados por ela sentiram-se tentados pela nova oportunidade, o que obrigava os senhores de Porto Real planejarem como e quão rápido poderiam acabar com aquilo antes da situação piorar, a descoberta dos planos direcionados às terras nortenhas deixaram-lhes felizes, enviaram forças consideráveis para apoiar os Bolton, e como tudo naquele continente espalhara-se velozmente, chegando à todos ouvidos que faziam parte da rebelião. Não bastava o crescimento do exército inimigo para preocupá-los, ainda tinham um traidor dormindo dentro do castelo onde deveriam sentir-se em casa, mas o pior era a ausência do rei, o homem sumira da vista deles, ignorando quaisquer reuniões marcadas e voltando apenas em palavras de seus enviados em busca de mais porções de seu exército para espalhar-se pelo norte, e o que faziam ninguém sabia. Porém, seu último comando foi total vigia de todos os lordes e seus comandantes, pouco moviam-se sem toparem com uma dúzia de mercenários fitando-os desconfiados. Rumores começaram rondar pelos acampamentos no pé da colina e pelos servos dentro do castelo, diziam da derrota iminente e como o rei amedrontado abandonara todos, aquilo transformava-se cada vez mais em verdades conforme passavam-se os dias e nada dele surgia. Mas, numa certa noite, todo lugar foi chamado atenção quando asas brancas eclodiram das colinas à norte e inúmeras tochas iluminando o caminho que seguiam demonstravam as porções sumidas indo em direção ao castelo, este totalmente desocupado quando finalmente os viajantes voltaram à onde deviam estar inicialmente, os exércitos abriram caminho e deixaram atravessarem, enquanto o rei pulava de seu dragão e gritava algumas palavras em Alto Valiriano provavelmente obrigando-o manter-se ao seu lado.
Serena observou os servos juntarem-se na retaguarda da aglomeração de lordes atravessando a ponte de madeira curiosos pela chegada do Targaryen, naquela altura havia recuperado-se do trauma da emboscada, sua amiga Talia ajudara durante todo percurso nos dias calados e melancólicos, voltara um pouco à sua personalidade, mas não totalmente, estava mais séria e reflexiva. Caminharam lado a lado, a irmã e amada, em busca do homem que deixaram-nas para trás sem nenhuma explicação. Juntaram-se à multidão descendo a colina e fixando-se distante dos exércitos rodeando o rei, seu dragão e uma grande quantidade de homens escondendo um número de pessoas desconhecidas atrás deles. Quando puderam vê-las pela primeira vez, o silêncio predominou o local, atrás do homem crianças, rapazes, donzelas e esposas eram colocadas em fileiras, todos amarrados e assustados, todos relacionados aos lordes nortenhos.
- O que significa isso? - exclamou Dieck Locke, notando sua esposa e herdeiro enfiados na quantidade enorme de reféns.
- Prendam todos os lordes, e quem tentar algo, simplesmente matem - ordenou Daeron. O rosto estava frio, sua postura firme, seus olhos analíticos.
Ninguém ousou mover-se, incrédulos demais, começando refletir se o homem havia enlouquecido de vez. Os soldados, de cada casa, avançaram alguns passos recuados imediatamente num olhar do dragão, preparado para fritá-los e depois devorá-los se não fosse pelos gritos do homem. Cada nobre sob suspeita foi acorrentado, as únicas exceções foram a viúva Karstark e o cranogmano, mesmo o Mormont fora puxado pelas correntes até ali, jogando-o ao lado dos outros. Dividiam-se em duas partes, uma fileira reta dos senhores mais importantes lado a lado, atrás senhores inferiores ou vassalos, todos tinham alguém importante dentre o grupo de reféns.
- Eu tentei ser o mais justo e bondoso possível durante grande parte do tempo - começou explicar em voz alta o rei, andando de um lado pro outro, cobrindo toda fila dos principais lordes -, mas ficou claro como as coisas funcionam nesse continente, peço desculpas aos inocentes pelo que acontecerá em seguida, porém esse será o jeito que descobriremos nosso traidor, não haverá mais reuniões e discussões de horas, cansei de manter-nos sob a derrota enquanto nossos inimigos riem de nossa desconfiança enviada às pessoas erradas. - Fixou os olhos na irmã, observando-a um pouco, antes de voltar sua atenção à multidão olhando-o ansiosos. - Cada um aqui tem uma pessoa importante enfiada no grupo à frente e deles tirarei a maior vantagem, se for necessário matarei um por um até encontrar o maldito traidor.
Então as reclamações começaram, gritos desaprovadores apontando como havia enlouquecido e tornava-se um tirano, mas o homem ignorou-os, indo direto à Taren Hornwood, o rapaz escolheu encarar o chão ao invés do homem à frente, só ergueu os olhos após as ordens do rei de jogar sua mãe sem dedos em frente à ele. A mulher era meio louca, soltava alguns gemidos aterrorizados regularmente, olhando em volta toda hora como se algo fosse atacá-la, ignorava por completo o filho e as pessoas em volta, é como se estivesse sozinha no mundo e mesmo assim o temesse.
- Não ela, por favor, olha como está - pediu o rapaz, fitando-a triste.
- Ela está aqui por sua culpa - respondeu Daeron.
- Por favor - implorou ele novamente.
Daeron empurrou a mulher no chão com o pé, fazendo-a gritar de susto e começar bater-se no chão. Taren tentou arrancar as amarras de corda e consolá-la, mas o rei pegou pelos ombros e começou balançá-lo furiosamente.
- Você é um traidor de merda! - berrou ele no rosto do rapaz.
- Não sou... não sou - murmurou ele sem tirar os olhos da mulher.
- Peguem essa maldita mulher e a joguem na boca de Aerion - gritou ele para os soldados, arremessando-o no chão.
- Não, por favor, eu não sou o traidor! - gritou Taren arrastando-se no chão. - Não sou o traidor, não sou o traidor, não sou! Por favor! - gritava cada vez mais alto, começando chorar. - Não a machuque, por favor, por favor!
- Parem! - ordenou o rei, desamarrando o rapaz e deixando-o pegar a mãe, afastando-se.
Encarou-o por alguns segundos, então moveu os olhos para o próximo e foi em direção à Mors Umber, trocaram olhares por um tempo, silenciosos, então mandou seus homens trazerem sua filha, arremessaram-a na lama em frente à ele, a garota de talvez dezessete anos levantou os olhos para o pai e começou chorar, sua boca amordaçada impedia o entendimento das palavras, mas claramente implorava por socorro. O olhar do brutamontes de frieza virou algo mais leve, mesmo tentando disfarçar.
- Você sempre foi muito quieto, será que esconde algo? - questionou Daeron numa voz fria, parecia outra pessoa. Como resposta, nada aconteceu, então pegou-a pelos cabelos e a puxou pra cima, agarrando-a pelo braço e levando-a em direção à fera de asas.
- Você está cavando seu próprio túmulo com isso, Daeron Targaryen! - gritou ele, demostrando um pouco de emoção pela primeira vez.
- Não tem nada a dizer sobre sua traição? - perguntou Daeron.
O homem manteve o rosto frio.
- Você não fará isso.
Os outros perceberam o peso nas palavras do lorde, começaram relaxar crentes no blefe do rei, fora algo esperto, mas direcionado à pessoa errada, o que acabou arruinando-o. Então, o rosto frio do rei foi interrompido quando franziu o cenho, virou-o e mandou jogarem-a no dragão, o que aconteceu em seguida chocou todos ali, deixando cada um paralisado mais que o outro, a fera abriu a grande boca e pegou-a, rasgando-a em dois, jogando a parte de cima do corpo para cima - mergulhando algumas pessoas em tripas, e incendiando-o antes de engoli-lo, fazendo o mesmo com o restante. O Umber pareceu demorar alguns segundos para processar aquilo, então começara gritar xingamentos e ameaças, explicando como havia protegido o garoto Tully e sido um dos organizadores da rebelião, comprovando que era confiável. Continuou amarrado, precaução caso tentasse vingar-se.
- O que sete infernos ele está fazendo? - questionou Talia furiosa.
- Manipulando-os, amedrontando-os e mostrando quem manda - respondeu simplesmente, observando a situação tão fria quanto ele.
Aquela não é sua filha, fico surpresa dela não ter encontrando-a nos dias na Última Lareira, espero que pelo menos Droenn perceba isso.
O terceiro na lista foi o Mormont, o rei fez o mesmo processo, trouxe sua esposa e seus filhos, ameaçou jogá-los no dragão, recebendo xingamentos e ameaças após tantos dias de silêncio na cela, o selvagem acertou uma cabeçada no homem de atrás desacordando-o e um golpe com as mãos amarradas no rosto de outro, correu em direção ao Targaryen gritando como um louco e foi desacordado no caminho. Sua família foi poupada, era claro sua falta de jeito para um traidor. O quarto da lista, o penúltimo também, fora o Locke, não desviou os olhos do rei, fitando-o com a mesma frieza. Trouxeram sua mulher e seu filho, jogando-lhes na frente dele. Daeron abaixou-se no lado da esposa e começou alisar seu rosto, brincando com seus cabelos, a expressão fria de Dieck começou tornar-se mais séria e odiosa.
- É uma bonita esposa de verdade - reparou o rei, falando com o homem como se fossem amigos. - Eu não aprovo estupros, porém tomá-la como minha esposa não é uma má ideia, viu? - provocou, levantando os olhos rapidamente para Talia olhando-o irritada e voltou para o lorde na mesma velocidade. - E você, rapaz, eu seria um bom pai, tenho certeza - disse aproximando-se do herdeiro e apertando seus ombros, tentando relaxá-lo naquela situação. - Mas filho de traidor, é traidor, não? - perguntou, mas não recebeu resposta. - Responda: é ou não é? - o rapaz com a boca amordaçada continuou gemendo tentando responder que não, e recebeu um tapão na orelha que o jogou no chão. - Moleque burro.
- Você é um maldito bastardo, um rei louco - cuspi Dieck furioso. - Eu não sou o traidor.
Daeron suspirou.
- Cortem a garganta desse aqui - disse apontando para o moleque. - E levem ela para meu quarto.
- Não! - gritou ele de imediato. - O que tenho que fazer para você acreditar em mim!?
- Simples, ajoelhe-se perante minha irmã, jure protegê-la e segui-la como fará comigo, então peça desculpa por julgá-la imprópria por ter sido bastarda em dias passados - respondeu com um sorriso desdenhoso.
Dieck Locke encarou o rei como se fosse um louco, seu ego estava em jogo e todos seus soldados o observavam, assim como todos outros nobres, se fizesse isso grande parte de sua dignidade seria perdida, porém sua família estava em jogo e caso fosse julgado traidor, não só o herdeiro seria devorado como ele executado, e a casa estaria extinta. Levantou-se, antes ajoelhado, foi em direção à garota e ajoelhou-se novamente em frente à ela, começou juramentar e quando terminou, com muito desgosto, pediu desculpas e declarou para todos que ela era tão digna quanto o outro Targaryen. Serena apenas levantou uma sobrancelha e o viu afastar-se, o sentimento de poder dominou-a por dentro, mas sabia que aquelas palavras eram tão falsas quanto a morte da filha de Mors.
Então sobrara apenas um.
- Não lembro de ninguém ter dado muita atenção à você, questionado-o demais ou qualquer coisa do tipo, era como se fosse um fantasma - disse Daeron, em frente à Grennan Glover que engoliu em seco. - Os piratas atacando suas terras, a necessidade de combatê-los, as forças futuras que seriam enviadas incompletas... estava tão na cara, e nenhum de nós percebeu - riu ele, uma risada seca que não demorou para morrer.
- Eu não sou o traidor - respondeu ele simplesmente.
- Traga sua filha - mandou, vendo uma bonita garota sendo agarrada pelos homens. - Pelo que sei ela é sua única, não é? Tinha uma irmã, chamada Kaylee Glover, mas morreu na Guerra das Tormentas. Me diga, como você se sentirá ao perder sua última cria?
Ele não respondeu, apenas encarou a filha sendo jogada em sua frente.
- Estou surpreso, há muitas donzelas bonitas no norte - observou, pegando o rosto da garota e depois apertando-o com força. - Responda-me.
- Horrível, será como se o mundo desabasse - respondeu firmemente, aliviando-se ao vê-lo soltá-la.
- Bom - disse simplesmente, então acertou um soco no lorde e pegou seu rosto com as duas mãos. - Você é o traidor?
- Não.
- Você é o traidor? - perguntou em voz alta.
- Não.
- Você é o traidor! - afirmou aos berros, dando vários tapas no rosto do lorde.
- Não!
- Você é o traidor, seu filho da puta e sua filha pagará por seus erros, morrerá como a irmã e você vai apodrecer nesse inferno de gelo até seus últimos dias perguntando-se por que escolheu trair quem confiou em você condenando a única pessoa que gosta de você, a única de seu sangue! - acertou mais tapas no rosto do homem.
- Eu não sou! - gritou o homem cuspindo sangue no rosto do rei.
- Peguem-na e arranquem as roupas até que fique nua! - berrou o rei para seus soldados vendo-os aproximarem-se um pouco receosos, mas prontos para cumprir a tarefa.
- Não! - gritou o Glover novamente.
- Vão logo! - berrou o rei, pegando a cabeça do homem e batendo-a uma vez só no chão, pressionando-a lá contra lama.
- Não faça isso! - gritou tentando soltar-se.
- Vai deixar sua filha ficar nua de frente à todos! - berrou o rei esmagando o rosto dele com mais força.
- Eu sou o maldito traidor, eu sou! - gritou o Glover finalmente admitindo.
- E seus vassalos, sabiam disso? - perguntou Daeron.
- Sim, todos - então quando o rei tirou as mãos do seu rosto, afastando-se e deixando-o levantar-se, percebendo o que fizera apenas encarou o olhar surpreso e enojado da filha.
- Você sabia disso? - questionou o Targaryen à garota, ao notar sua surpresa.
- Não - respondeu ela trocando um olhar com ele, depois de tirarem a corda de sua boca. - Por que, pai?
Daeron Targaryen deixou a expressão fria sumir e no lugar a fúria espalhou-se pelo rosto, mandou levarem-na para dentro do castelo, pois as coisas ficariam desagradáveis, esperou que sumisse de vista e olhou todos em volta, era um misto de reações que não parou para analisar, fitou apenas a irmã e, principalmente, sua amada, deixou um pouco de culpa vazar, mas controlou-se e voltou sua atenção ao homem.
- Grennan Glover - disse arrastando-o pelos cabelos em direção ao centro da aglomeração de exércitos, indo em direção aos homens do estandarte do urso - sentencio você à morte por traição.
Ouvia-se apenas o som das tochas, as tendas de seda ou limo balançando no vento e os socos do rei acertando o rosto do homem ininterruptamente, deformando-o cada vez mais, só parou quando desmaiara, trocando as mãos pelos pés, acertando chutes no rosto do traidor até finalmente saber de sua morte. Coberto de sangue, ergueu-se do cadáver, olhou todos os soldados em volta, sua expressão não passava de um vazio agora, porém poderosa e satisfeita. Aproximou-se dos reféns, dirigindo-se diretamente aos filhos dos vassalos do Glover.
- Vocês sabiam da traição de seus pais? - alguns responderam que sim, mas a maioria que não. - Vocês querem uma era de traição ou honra? - dessa vez todos responderam honra. - Entendem o que acontecerá com eles? - alguns acenaram, mas todos tinham noção. Daeron virou-se, gritando para todos: - Eles serão os novos lordes de cada casa, seguirão minhas ordens na substituição de seu pai, honraram-me. Não, é? - os jovens acenaram que sim, nervosos. - Darei cada lorde para um exército, suas mortes lentas e dolorosas ou rápidas e misericordiosas não está na minha preocupação, não recompensará o que perdemos, mas nossa vingança começará mais cedo, a vingança contra os traidores aos montes desse continente, são pragas numerosas que acabaremos um por um. Seus familiares foram mortos por traição - começou gritar como um selvagem, lembrando os mãos negras de Khal Ragh. - Seus amigos também! Todos nós sofremos nas mãos desses malditos, e tudo isso vem de apenas uma fonte, o reinado sujo de Jan Baratheon e seus subordinados esfoladores, o maldito colocou um psicopata para comandá-los, a mesma família que ajudou acabar com seus amados! E o que vocês farão, se esconderão ou se vingarão!?
Uma pequena porção dos exércitos responderam com incentivos à vingança.
- Eu não ouvi, o que farão? - berrou novamente.
Então juntaram-se mais e mais, começando uma berraria que alastrou-se pela floresta por muitos quilômetros. O rei esperou terminar para dirigir-se finalmente aos homens do Glover.
- Quem quiser manter-se no lado que lutará contra os esfoladores pode ficar, quem não quiser pode virar-se e juntar-se à eles - anunciou.
Quando as primeiras dúzias começaram afastar-se todos pensaram que logo todo exército iria junto, mas apenas meia centena foram emboras, enquanto os dois mil homens mantiveram-se ali.
- Quem escolheu ficar, pois bem, serão perdoados de seguir um traidor, mas digo à quem pensa na possibilidade de traição: não receberá uma morte limpa e honrada. A partir daqui traição será paga com
fogo e sangue - exclamou Daeron Targaryen.
Então os soldados ajoelharam-se perante ele.