Fazia algumas assinaturas em papéis do hospital mas seus pensamentos estavam longe. Pensava no beijo que havia recebido de Gabriel, deveria estar maluca por estar interessada em um criminoso. Mas ele parecia ter um bom coração, talvez fosse isso que chamava sua atenção. Balançou a cabeça tentando se afastar de tais pensamentos, tinha que pensar que se envolver com ele poderia acabar com sua carreira.
Uma enfermeira bateu à porta de sua sala e anunciou que havia alguém da polícia querendo vê-la. Arregalou os olhos, centenas de hipóteses vieram a sua cabeça, todas acabava com ela sendo suspeita de algum crime. Assentiu para a colega de trabalho com a cabeça, que foi chamar a pessoa que queria conversar com ela.
Eis então que entra o homem na sala da médica. Parecia um pouco desconfortável, estendeu a mão para cumprimentar Mary.
— Detetive Josh Cohle. — se apresentou o homem.
— Ah, sente-se, por favor. — disse a doutora apontando a cadeira em frente sua mesa.
O homem se sentou, e começou a olhar em volta da sala. Já Mary estava tentando disfarçar o nervosismo que passava por dentro.
— Deve saber do que houve na mansão Marconi em Venturas, não é? — perguntou o detetive recebendo um sim com a cabeça da doutora. — Neste dia você atendeu um paciente que é suspeito desse caso. Poderia me dizer alguma coisa que ajudasse na investigação?
O oficial colocou uma foto de Gabriel em cima da mesa. Mary olhou para a fotografia notando que era de uma ficha criminal, mas ainda tentando disfarçar, começa a responder o detetive:
— Oh, eu não sabia que ele era um suspeito. Ele havia se metido em uma briga de bar ou coisa do tipo, se bem me lembro.
Josh olhou nos olhos da médica, era um tanto quanto assustador sua expressão embora não apresentasse maldade.
— Ele não lhe disse mais nada? Ou esteve por aqui novamente? Qualquer detalhe poderia ajudar.
Mary estava com os olhos na foto da ficha de Gabriel, havia esquecido por um momento que tinha um detetive na sua frente. Retomou a consciência e respondeu o homem:
— Sinto muito, detetive, é tudo que sei. Não o vi mais depois daquele dia.
O detetive assentiu e se levantou da cadeira, virando as costas e saindo da sala. Suas últimas palavras foram um “obrigado pela cooperação” de forma seca. Quando estava sozinha na sala, levou uma das mãos a cabeça e respirou pesadamente.
Algumas horas depois quando acabara seu expediente, pegou seu carro e foi direto até o Sadboys procurar por Gabriel. Chegando lá, encontrou Chris conversando com Bad Assher, contava algo sobre ter acordado hoje num hotel sem lembrar de muita coisa. A médica não prestou muita atenção.
— Olá. — cumprimentou Mary os dois.
— Hey, doc. Que surpresa. — respondeu Chris.
A mulher olhou para Chris e fez uma expressão de que se lembrara de algo. Mexeu na bolsa procurando por algo e então tirou um frasco com alguma medicina.
— Eu trouxe um antibiótico para seu ferimento. — disse entregando o remédio.
— Oh, isso é muito gentil de sua parte. Eu agradeço.
— Sem problemas. — disse sorrindo. — O Gabriel está por aqui?
O loiro respondeu positivamente e disse que iria chamá-lo, abriu a porta da sala dos fundos, a mesma que ela tratou da bala no ombro de Chris e pudera ver que estavam tendo algum tipo de reunião lá dentro, mas, mesmo assim, Gabriel veio vê-la.
— Hey, o que faz aqui? — disse surpreso Gabriel.
Os dois foram até uma mesa para conversar mais à vontade. Gabriel oferecera algo para a médica porém a mesma rejeitou, foi direto ao assunto:
— Um detetive veio me ver hoje… Disse que você era suspeito do que aconteceu no caso Marconi e queria algumas informações. — o rapaz fez uma cara surpresa ao ouvir aquilo. — Achei que gostaria de saber.
— Era Josh Cohle? — perguntou Gabriel recebendo um sim como resposta. — Esse desgraçado tem algum tipo de fixação na gente.
— Eu não disse nada, apenas sobre a briga de bar… — explicou Mary.
Gabriel sorriu lateralmente ao ouvir aquilo, pegando na mão da médica e a agradecendo. Ela rira de volta pra ele no começo, mas depois não conseguiu esconder uma certa preocupação.
— Ei, você está bem? — perguntou Gabriel.
— Ah, é, estou. É só que… Foi um pouco assustador a visita dele, pensei que poderia acabar me prejudicando.
— Desculpe ter colocado você nessa posição. Darei um espaço para você não se complicar, está bem?
A médica concordou sorrindo e o homem não resistiu e teve de beijá-la. Mary ficara surpresa, mas foi mais forte que ela e apenas deixou o momento continuar. Se separam quando Chris a tirar sarro dos dois.
— Bravo! — dizia ele batendo palmas e rindo junto de Bad Assher.
— Vão se foder. — falou Gabriel rindo.
Mary ficou envergonhada naquele momento e apenas riu junto dos homens. Despediu-se de Gabriel e dos outros e saíra do bar. Quando entrou em seu carro, prestes a dirigir, viu próximo dali no outro lado da rua um carro parado. A surpresa era quem estava nele. Era o detetive Josh a observando. A médica sem saber reagir, apenas ligou o carro e deu o fora dali.
— Vamos primeiro resolver nossos problemas com Al e depois vamos para uma boate italiana ter uma conversa com nosso amigo mafioso. — Will atualizava Gabriel e Chris que estava com Mary antes.
— Então vamos recusar roubar as armas dos russos? — perguntou Gabriel.
— Vamos oferecer as armas da Dama pra ele. — disse o negro olhando para os parceiros. — Se não, teremos que pensar em um plano B.
Estavam na sala também Dwight e Prime, o mais jovem havia deixado a italiana com Barbara, que embora relutante, acabou ficando vigiando a garota. Bad Assher conseguiu a localização de Al com alguns contatos da rua e deu para o grupo que checaram suas pistolas e foram até o jipe.
O local que o velhote conseguiu para os parceiros era uma rua da área dos Black Normies, a gangue de Al. Um lugar bastante desértico, não haveria problemas com polícia caso as coisas saíssem errado.
Chegando na rua, Will e os outros puderam ver de longe uma garagem com dois carros estacionados e sete negros escorados nos veículos, contando dinheiro e saquinhos de cocaínas. O grupo chegou numa velocidade lenta para não assustar os negros e estacionou quase em frente a garagem.
Os Black Normies no mesmo momento sacaram suas pistolas, apontando para o jipe. Will abriu a porta do veículo, saindo dele e gritando para Al:
— Nós viemos apenas fazer algumas perg…
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Will nem pode completar a frase pois os negros começaram a atirar. Gritou um “merda” e foi para trás do veículo. Prime pulou para direção tomando controle do volante, enquanto Chris e Gabriel saíram do veículo atirando de volta. Dwight abriu o teto solar e começou a atirar por cima.
Os negros correram até seus carros para dar o fora dali, porém dois foram atingidos por balas que mancharam suas camisetas de sangue. Al e os outros saíram cantando pneu do local, levando tiro de todos os Sadboys na lataria dos carros.
— Vamos lá! — gritou Will voltando para o veículo.
Dessa vez Prime dirigia, em alta velocidade atrás dos dois carros. Dwight ainda estava pra fora do teto solar. O irlandês começou a atirar em um dos veículos, conseguindo acertar o pneu dele e fazer o carro capotar algumas vezes.
O grupo gritou de comemoração devido a adrenalina do momento em ver o carro capotando, mas continuaram a perseguição.
— Al está naquele dali, encoste do lado dele! — disse Will para Prime.
O garoto acelerou o veículo e alcançou o carro dos negros na velocidade, andando emparelhado ao lado deles. Os negros abriram a janela e começaram a atirar, fazendo Dwight descer do teto solar rapidamente. Alguns tiros destruíram as janelas do lado esquerdo do jipe, mas sem acertar ninguém do grupo. Will apontara sua arma através da janela quebrada para o carro, colocando o braço na frente da visão de Prime que teve de dirigir cegamente por alguns segundos. Atirou três vezes contra o carro dos negros, fazendo sangue jorrar nos vidros. Havia acertado um dos negros que estava no banco do carona. Al que dirigia freou o carro bruscamente, fazendo os Sadboys passarem reto, tendo que improvisar uma manobra. Prime recuperando a visão girou o volante pisando no freio e girou o jipe para a direção do carro dos negros, que estava tentando se virar para continuar a escapar.
— Hora de acabar com a brincadeira. — disse Will.
Prime tomou velocidade e correu com o veículo na direção do carro dos negros que recém-tomara velocidade para fugir. O jipe chegou novamente ao lado do veículo dos Black Normies, tendo Dwight no teto solar novamente atirando com sua pistola nos pneus, acertando outra vez. O carro de Al perdeu o controle e acabou batendo na lateral traseira do jipe, os dois carros começaram a rodopiar.
O cenário seguinte fora o carro dos negros batendo em um carro estacionado na rua e o jipe sendo freado as pressas por Prime, jogando Dwight para fora que caiu no chão rolando.
— Ah, merda! — disse o irlandês quando caiu no chão, mas sem ferimentos.
O grupo saiu do carro e foram todos apontando as armas para o carro de Al, que abrira a porta e tentara fugir, atirando cegamente nos rapazes mas errando todos. Chris atirou na perna do negro fazendo-o cair no chão, enquanto Gabriel e Prime checavam os negros restantes do carro. Estavam todos desacordados, não dava pra dizer se morreram, mas estavam com bastantes ferimentos.
— Nós iriamos apenas conversar. — ironizou Will mirando a arma na cabeça de Al.
Acabou com a vida do homem deixando um rastro de sangue e miolos no asfalto. Fez um sinal para os parceiros para darem o fora dali, aquela área era desértica mas ninguém era surdo para não ouvir tudo que fizeram.
Entraram em seu veículo e deram o fora dali, indo na direção de uma garagem de um dos contatos do Bad Assher, um policial aposentado que ganhava a vida com favores. Deixaram o jipe com esse homem para não chamar a atenção e saíram de lá com uma nova picape emprestada. Enfim, seguindo até a boate se encontrar com Lazarus.
A boate marcada pelo encontro possuía um letreiro grande e escandaloso, com luzes fluorecentes. O lugar se chamava “Divina”, havia dois seguranças na porta que revistaram Will e os outros antes de entrarem, recolhendo suas armas.
Já dentro do local, puderam observar como era um local bonito, embora não tão grande. Bastante organizado, com mesas e cadeiras prateadas, alguns sofás nos cantos e salas privadas. Um palco no meio com uma mulher fantasiada de “Mágica Sensual” fazendo alguma apresentação para homens próximo dela que jogavam notas de cinquenta dólares. Fora as outras belas e seminuas garotas que rondavam pela boate servindo bebidas e até mesmo elas mesmo para alguns clientes.
Lazarus estava numa mesa com uma bela mulher loira trajada com um vestido vermelho e elegante ao seu lado. Quando vira Will e os outros mandou a mulher deixar eles a sós e foi de encontro ao negro.
— Fico feliz que tenha vindo, William. — disse o italiano apertando a mão do negro.
Fez um gesto para os rapazes se sentarem na mesa em que estava. Fazendo um gesto para uma das garotas trazer bebidas para eles.
— É um lugar e tanto. — elogiou Will.
— Obrigado, é uma das minhas propriedades que mais me orgulho, devo dizer.
Algumas das belas garotas que circulavam, passavam pela mesa e trocavam olhares e sorrisos com os rapazes, principalmente com Chris. Prime era o mais desconfortável por nunca ter frequentado algum lugar parecido.
— Eu cuidarei de alguns negócios em Polotown e ficarei por lá alguns dias. Parto em uma semana. Pensei que não seria problema conseguir minhas armas até lá. — falou Lazarus.
— É, sobre isso… Sinto muito pela demora, tivemos um problema com uma gangue que atacaram um dos meus caras. — disse o negro apontando com o queixo para Chris. — Mas agora estamos bem.
— Está tudo bem. Sinto muito pelo ataque.
O que mais irritava Will naquele italiano era sua elegância, sempre tão gentil em suas palavras que nem parecia um criminoso. Uma jovem garota veio com uma bandeja que possuía alguns drinques, distribuindo para eles. Lazarus levantou o copo para um brinde e Will o fez, mesmo que sem querer.
— Diga-me, Lazarus, você precisa mesmo das armas dos russos? Eu poderia lhe fornecer algumas que consegui numa recente negociação. — perguntou o negro.
— Pensei que comprasse armas na rua. — rebateu sarcástico o italiano.
O irlandês tomou a palavra, largando um comentário que fez Lazarus rir baixo:
— Foi uma negociação das ruas.
— Desculpe-me, cavalheiros, mas eu aceitando essas armas não afeto diretamente os russos. Então temo que o único jeito seja pegar as armas do galpão Solokov. Dois russos na cadeia não é uma vingança de mafiosos, russos sem armas e destruídos é. — falou o chefe da máfia italiana.
Will fora obrigado a concordar e deixou Lazarus avisado que iriam recolher as armas antes da viagem do italiano para Polotown. Quando ele e os outros estavam se dirigindo a saída, ouviu o mafioso gritar por seu nome, fazendo-o virar para ouvir o que ele tinha mais a dizer.
— Minha sobrinha ainda está desaparecida. Eu ficaria muito grato e devendo dois favores se encontrarem ela junto com as armas. — disse sorrindo.
O negro gelou por dentro quando ele disse aquilo. Aquelas palavras apenas fortaleciam a teoria do grupo de que Lazarus sabia de tudo e só estava brincando com eles para ver até onde a lealdade iria. Apenas assentiu ao italiano e saíram todos da boate rapidamente.
— O que faremos, Will? — perguntou Dwight.
— Pensaremos no plano B. — respondeu o negro.