Apertou-se em Orlan, enfiando o rosto em seu pescoço; estavam cobertos por seus dois mantos, abraçados um no outro para se aquecer. O frio estava tanto que o vento se tornara físico, vindo em ondas brancas de névoa que, gélida como o fundo de um lago congelado, açoitava o grupo sem piedade alguma. Queriam, mas não podiam acender uma fogueira, não tinham coragem. Procuraram, mas não acharam abrigo algum. O que restara foi apenas a beira de um rio que desaguava no mar, sabiam os nortenhos. Serena tinha escapado do campo de batalha, descendo todo campo até outra floresta, onde não encontrara criaturas, continuara trotando até que Tobin acordou, jogou-se do cavalo e começou a gritar. Não soube o que fazer, então chutou sua cabeça e o rapaz adormeceu novamente, mas tinha atraído atenção, não a que temia, mas sim a de Droenn que chegara com outros cinco soldados.
Estavam ela, o Martell, Droenn e outros seis soldados ali nas últimas árvores antes da margem do rio, todos deitados, tentando ignorar o frio para que pudessem dormir e descansar. Serena e Orlan estavam encostados numa árvore, ao contrário do restante. Tobin e Cetim tinham pedaços de pano amarrados na boca, trancados em suas próprias árvores, servia para esconder seus gritos da redondeza, mas não impedia de que ouvissem os berros suprimidos, enquanto batiam-se contra o tronco. Tobin estava uma situação muito pior que Cetim, a doença parecia ter consumido ele quase por completo, pois batera a cabeça três vezes na árvore antes de se acalmar, agora estava com uma ferida ali.
— Qual é o nome de vocês? — perguntou Serena aos soldados, algumas horas antes.
Eles responderam, iniciando uma conversa que durou um bom tempo, horas cheias de histórias, invenções, piadas que os faziam rir e outras coisas para distraí-los da tortura de estarem congelando. Um homem de idade com cabelos grisalhos e barba rarefeita chamado Daken contou que seu filho fora para Patrulha da Noite por vontade própria e se orgulhava muito disso, mas que estava triste de saber que as chances do rapaz estarem mortos agora eram grandes, por isso queria, de alguma forma, poder vingar o filho. Outro homem, chamado Lyam, era mais jovem, cerca de vinte e dois anos, com uma longa cabeleira castanho escuro e olhos claros, o nariz era grande e os lábios finos. Ele contou que era dono de um bordel, mas o perdeu quando comeu a mulher do lorde local, tendo de escapar dali o mais rápido possível para não ter sua cabeça decepada.
— Acho que o lorde pretendia decepar outra coisa — falou Ryon, fazendo com que o restante risse.
Ryon era um jovem de dezenove anos que tinha o cabelo curto e uma barba a crescer, poucos pelos no rosto, dos quais se gabava, dizendo que naquele frio todos sairiam.
— Mais fácil que se encolham para dentro de você — comentou Orlan.
O rapaz estava doente, a diferença dos desertos quentes de Dorne para os campos de neve do Norte fora impactante demais nele. Espirrava, tossia, fungava, tinha febre, estava pálido e gelado demais. Serena estava preocupada.
Quando a conversa entre eles acabou, decidiram dormir e descansar. Tentaram. Alguns conseguiram cair no sono, mas estavam tão desconfortáveis que se contorciam na neve sem parar, acordando uma, duas, três, quatro, cinco e outras milhares de vezes durante o cochilo. Pelo menos, naquele momento, Orlan parecia ter dormido de vez.
Tirou o rosto do pescoço dele e o encarou, tinha oferecido a capa para ela, mesmo doente. Sorriu e respirou fundo, desejando que não estivessem ali, mas sim nos lindos jardins de Lançassolar. Todos ali estavam dormindo ou deitados e apertados em seus próprios corpos, menos a dupla de doidos nas árvores. Serena olhou para seu dragão que descansava ao seu lado e depois para o rio, observando a água correndo lentamente, não demorando para ficar completamente avoada, perdida em seus pensamentos. Distraída, não notou a água começando congelar. Os homens jogados na neve começaram se contorcer mais, o frio estava piorando. Serena poderia ter notado os flocos de neve começando voar por ali com mais violência, digna de uma nevasca, mas estava distraída demais. Só acordou quando a água já estava congelada e era impossível não notar.
Serena ergueu os olhos imediatamente, vendo uma criatura descendo de um cavalo sem metade do rosto, colocando os pés na neve e caminhando por ela sem deixar passos para trás. Não era um cadáver ambulante, sua pele era branca como leite e a armadura de gelo, seu rosto parecia paralisado numa expressão fria, para sempre, seus cabelos brancos balançavam no ar, era estranhamente bonito e aterrorizante ao mesmo tempo. Ela se ergueu, deixando Orlan cair na neve que acordou num susto. Serena sacou sua espada e ergueu-a, tremendo. Nunca teve tanto medo em sua vida como estava sentindo ali.
O Outro colocou um dos pés na superfície congelada do rio, que se alargava por uma boa distância para ambos lados. Serena tentou balbuciar algo, mas nada saiu de sua boca. O outro pé foi colocado no gelo e ele começou sua travessia. A boca de Serena tremia, não sabia se pelo frio ou pela determinação de dizer algo. Ele já estava chegando na margem quando uma voz finalmente se soltou, mas não era dela.
— Acordem! — berrou Orlan.
E todos acordaram, incluíndo Droenn. Primeiro, ficaram meio atordoados, mas quando viram a criatura, se ergueram no mesmo instante. O Outro chegou em terra e deu alguns passos, parando para olhar um por um, em silêncio. O dragão de Serena, já acordado, levantou voo e avançou contra ele, já com as chamas subindo pela garganta para acertá-lo com um jato de fogo, mas foi interrompido.
A espada de gelo, mais longa que qualquer outra normal que vira, parecia uma lança, atravessou o dragão num golpe só, tirando um grito da criatura que caiu morta na lâmina de gelo. O mundo congelou para Serena, tudo pareceu desaparecer para ela, exceto aquela criatura com a espada atravessada no peito de seu dragão. Despertou do choque, ao vê-lo tirando o dragão da espada e deixando cair na neve, cobrindo-a de sangue, tal como a espada já estava.
— Não! — berrou Serena, numa mistura de fúria e tristeza.
Orlan tentou agarrá-la, mas a garota o empurrou para longe e avançou contra o Outro que apenas desviou do golpe e acertou um tapa com as costas na mão que a fez voar vários metros, rolando pela neve, enquanto a espada de aço valiriano voou junto dela, mas caiu um pouco distante. Um rastro de sangue se alinhou nos últimos metros que ela caiu. Serena engasgou-se com seu próprio sangue, tonta.
O Outro tomou aquilo como convite para a batalha e avançou contra o grupo. Orlan que estava mais próximo congelou ao ver a criatura vindo em sua direção, mas foi salvo por Daken que avançou contra o inimigo, colidindo sua espada de aço com a de gelo, assustando-se ao vê-la quebrando em vários pedaços. O homem, chocado, engoliu em seco e aquilo fora a última coisa que fizera antes de ter uma espada atravessada em seu peito, matando-o.
Alayne[Mary]Vestimenta: Vestimentas modestas sob duas camadas de couro, uma cobrindo todo seu tronco e outra por cima protegendo completamente seus ombros, a última fundida com uma cota de malha resistente que ia até sua cintura, onde Solar era mantida pacientemente. Por cima, tinha um casaco de pele. Numa bainha no lado contrário da espada, era guardado a lâmina de obsidiana que Henrik havia lhe dado, um dia fora para sorte, agora por precaução.
Armas: Espada nomeada como Solar, a empunhadura negra é feita de couro e o pomo feito de prata, em formato de sol, daí o nome. Uma adaga com os dizeres de sua casa gravado na lâmina curvada: o sol no inverno. Tem a empunhadura negra e sem adornos. Um escudo de madeira com bordas de metal.
Rhaego[Dwight]Vestimenta: Sua armadura era modesta, uma camada de cota de malha por baixo de couro fervido, o que ajudava muito na sua movimentação, já que tinha o peso e a dificuldade de se mover com o casaco de pele.
Armas: Arakh de Aço Valiriano (em chamas) e duas adagas com o punho em formato de cavalos-marinhos esculpidos em prata presas cada uma a um lado da cintura.
Voltaram a correr pela floresta, com as criaturas mais próximas do que nunca, berrando em vozes finas e amedrontadoras, como se gritassem para que parassem, para que pudessem socá-los até a morte ou mutilá-los com seus machados e espadas. Rhaego estava mais rápido agora que Rina não estava mais em seus ombros, mas continuava atrás de Alayne que atravessava a neve com tamanha facilidade que a faria agradecer todos os Deuses Antigos, mais tarde naquele dia se sobrevivesse, por tê-la feito uma garota aventureira que explorava as redondezas de Karhold todo dia quando criança.
Em algum momento, Rhaego sentiu um corte em suas costas e desajeitou-se em sua corrida, quase caíndo. Não soube como foi feito ou o que cortou, e nem queria, optou por continuar correndo. Virou o rosto para o lado ao ver que algumas criaturas estavam lhe alcançando, estavam um pouco distantes, encarando-lhe com os olhos azuis brilhantes e os dentes a mostra, quase que babando. Ignorou e não ousou olhar para o lado novamente, focando-se apenas no que vinha em frente.
Minutos depois e tinham chegado num barranco que dava para um rio não muito embaixo, mas numa altura considerável, no outro lado o nível de terra era o mesmo de onde estavam e a floresta voltava. Alayne aumentou sua velocidade e saltou para o outro lado, mas Rhaego não conseguiu. O Velaryon escorregou na neve e bateu a cabeça numa pedra, machucando sua testa e deixando-lhe um pouco tonto. A confusão foi embora aos poucos, sentiu sangue escorrendo por sua testa e nariz, cobrindo o arakh, já cheio de neve, com seu sangue. Ergueu os olhos e viu a silhueta embaraçada de Alayne gritando, e atrás dele escutou os berros das criaturas. Suspirou, ergueu-se e virou-se para trás, vendo que elas já estavam perto demais para que pegasse impulso e pulasse para o outro lado, não o suficiente para que
realmente chegasse ao outro lado.
Respirou fundo e ergueu o arakh ao lado do rosto. Respirou fundo e observou as criaturas aproximando-se. Respirou fundo e tentou ignorar os gritos de Alayne, rezando para que ela saísse dali para não ver o que aconteceria em seguida. Respirou fundo e apertou o punho da espada. Respirou fundo e fixou seus olhos na criatura bem em sua frente. Respirou fundo e cerrou os dentes, já posicionando-se para golpeá-la.
Respirou fundo e seu sangue estourou em faíscas no Arakh. Vapor subiu da neve que cobrira o aço valiriano, que agora, naquele momento, estava em chamas.
Com o Arakh assim, Rhaego ganha +2 contra criaturas.Mapinha: http://prntscr.com/gcoqnkDroenn[Prime]Vestimenta: Algumas camadas de couro fervido sob um casaco de pele.
Isso é uma representação do que você tá vestindo sob o casaco de pele.
Armas: Espada com a cabeça de um lobo gigante esculpida em seu punho, nomeada de Netuno. No guarda-mão, as dizeres de sua casa grafados: O inverno está chegando.
Um silêncio permaneceu entre eles após a morte de Daken. Alguns deles começaram a recuar, amedrontados demais para fugir, e outros conseguiram tirar coragem de sabe-se que lugar para avançar contra o Outro. Os dois soldados berraram e o atacaram ao mesmo tempo, o da esquerda teve a espada segurada pela mão do Outro e o da direita teve o golpe interrompido pela lâmina de gelo. As duas quebraram-se em pedaços em seguida. Rapidamente a criatura decepou a cabeça de um e enfiou a espada na barriga de outro, arrancando-a em seguida, enquanto o mesmo caia no chão sem vida. Orlan virou as costas e correu dali, o Outro apenas continuou a caminhar, em direção à eles.
Tobin e Cetim começaram gritar assim que o viram.
Mapinha: http://prntscr.com/gcovqn