Barbara estava deitada em sua cama num sono profundo, com os olhos inchados de choro. Do outro lado da cama estava o irlandês sentado, livre de camiseta naquela madrugada um tanto quanto calorenta. Coçava sua ruiva barba enquanto olhava para o nada, lamentando a morte de Prime e o acontecido com sua mulher. Fora até a cozinha fumar um cigarro, sono era algo que ele não possuía naquela noite. Balançou a cabeça negativamente quando o cheiro de água oxigenada adentrou suas narinas. Embora Bad Assher havia feito um trabalho bem-feito sumindo com as evidências do crime, Dwight conhecia sua casa e notava a mínima diferença que havia ali, seja uma fraca mancha no carpete ou parede.
No Sadboys estava o velho Bad Assher atrás do balcão com um copo de uísque, devia ser o seu terceiro ou quarto copo. Olhava triste o movimento do bar que havia bêbados dando risadas e tagarelando, algumas belas mulheres que os acompanhavam. Um ou outro solitário apenas afogando as mágoas no álcool. Mas seus pensamentos estavam longe dali, pensava que não poderiam nem dar um enterro descente a Prime já que teriam que esconder o corpo da polícia e seja lá o que Will faria com o da garota, ambos estavam num açougue de uma amiga do velhote, que ilegalmente armazenava problemas como esses.
Na sala de reunião aos fundos do bar, haviam roupas femininas e masculinas jogadas ao chão e no sofá preto e acolchoado do lugar estava Lana, nua e de bruços, soltando gemidos ofegantes enquanto Chris montava na mulher. O loiro tentava tirar a tristeza e preocupação da cabeça com o prazer, mas não parecia funcionar muito já que seu corpo sentia prazer mas a mente preocupação. Esperava que essa merda toda com a máfia acabasse logo.
Gabriel foi até a casa de Mary naquela madrugada, batendo a porta e sendo recebido pela mulher vestindo roupas de dormir já. Sentia por ter acordado ela mas a mesma nem ligou para isso quando viu os ferimentos em seu rosto. Tratou dos cortes do homem, o mesmo gostava quando ela tocava carinhosamente sua face. Mas aquela boa sensação não foi o suficiente para conter as lágrimas que vieram ao seu rosto, teria sido realmente culpa dele o que houve com o Prime? Devia ter deixado Will matar a garota no dia do assalto? Tudo isso bagunçava sua cabeça. A doutora se surpreendeu ao ver ele daquele jeito, abraçou-o forte e não dissera nada, apenas quis confortá-lo.
Josh estava em seu apartamento, despido no banheiro fumando um cigarro. Estava prestes a entrar no banho quando parou para pensar no que Will havia lhe dito. Valeria a pena deixar os Sadboys de lado para capturar as máfias? Tinha de haver um jeito de pegar os três, mas talvez perdesse uma grande oportunidade ali. Pegara no seu armário um frasco de comprimidos para insônia, jogou duas pilulas na mão e tomou-as.
O líder dos Sadboys estava em casa, atirado em sua cama com uma boa quantidade de garrafas de cerveja vazias em sua volta. Olhava para o teto com o resto de consciência que tinha, pensando na sua já falecida esposa que fora morta por pessoas de uma gangue a qual Will não previu ser uma boa aliança. Um favor não pago e teve sua mulher brutalmente assassinada pelos White Breeds. Uma gangue nazista que fora exterminada pelos rivais. O negro fechou os olhos e deixou lágrimas escorrerem pelo seu rosto, indesejadas mas necessárias para o homem aguentar toda essa situação. Não podia deixar mais ninguém se machucar.
Na mesma praça onde Will e Lazarus se encontraram, estava Josh sentado num dos bancos daquele belo lugar. Havia entrado em contato com os Sadboys naquela manhã para um encontro na Praça Central. Daria sua resposta ao negro sobre a proposta que havia recebido.
Após alguns minutos de espera, avistou Will chegando sozinho no lugar com um rosto cansado. O negro se sentou ao lado de Josh e nada dissera, apenas aguardou o detetive.
— E o resto de seu grupo? — perguntou Cohle.
— Descansando, provavelmente. — respondeu rouco. — Aceitará meu acordo?
— Depois de algumas respostas, talvez.
Will olhou para o detetive e concordou com a cabeça. O negro puxou a carteira de cigarro do bolso e acendeu um, oferecendo a carteira para Josh que apenas rejeitou desinteressado no momento. O policial não pode deixar de notar a estranheza que o homem apresentava. Difícil dizer se era tristeza ou cansaço.
— Os russos trocarão a garota por armas hoje a noite, no mesmo galpão que encontraram o dinheiro dos Marconi. — disse Will tragando o cigarro.
— Como você sabe disso? — indagou Josh.
— Lazarus ainda desconfia da gente. Ameaçou matar cada um de nós se os russos não estiverem com a garota e for algum tipo de plano nosso.
O detetive olhou para o horizonte e ficou em silêncio por alguns segundos. Will o encarava aguardando uma resposta. Josh apenas concordou com a cabeça. Ambos se levantaram e o negro estendeu a mão para o detetive, que lentamente apertou selando o acordo.
Quando o criminoso se dirigia para fora da praça, ouviu seu nome ser chamado e se virou para ver do que se tratava.
— Eu espero que isso não seja uma farsa. — disse Josh com firmeza. — Porque as coisas ficariam bem ruins.
William riu de canto e assentiu, se retirando do local sem muita pressa. E Josh não fazia nem ideia de que tudo aquilo não passava de uma mentira. Foi até o departamento de polícia fazer os preparos para a suposta captura dos mafiosos.
Mal havia entrado em sua sala e a agente Danvers adentrou o local também com uma feição furiosa. Ela nada dissera, apenas jogou alguns papéis na mesa de Josh e ficou parada esperando ele ler. Se tratava do atestado de óbito do agente Barnes. Aquilo chamara a atenção do detetive, que perguntou o que havia acontecido para a mulher.
— Foi assassinado na rodovia, a perícia acha que foram os negros. Mas eu tenho outro palpite. — disse sugestiva.
— Sinto muito pelo seu parceiro. — falou o homem se sentando na mesa.
— Sinto muito? É isso que você tem a dizer? Isso é culpa sua que liberou aqueles criminosos e jogou todas as chances que tínhamos de capturar a máfia no lixo!
— Ao contrário, agente Danvers. Isso é culpa sua, na verdade. — rebateu num tom calmo Josh. — Prepare cinco equipes para a prisão de alguns criminosos.
— Do que diabos você está falando?
O detetive se levantou da mesa e começou a caminhar em direção da saída de sua sala. Parou na porta e se virou para a agente, encarando-a com um olhar de quem havia ganhado aquela disputa:
— Estou falando de capturar mafiosos do jeito certo. Do meu jeito. — deixou as palavras no ar saindo dali.
Abriu os olhos lentamente e notara ter acordado numa cama que não conhecia. Após espreguiçar-se, se retirou daquele quarto e se deparou com Mary sentada na mesa enquanto tomava uma xícara de café. Sorriu ao ver ela e foi até lá.
— Um pouco de café? — ofereceu a médica.
— Não, obrigado. — respondeu — Tenho que ir para o bar daqui a pouco.
— Quer me contar o que aconteceu ontem?
Gabriel abaixara o olhar e começou a pensar em que resposta podia dar a mulher. Porém não havia palavras e tudo que fez foi negativar com a cabeça.
— Tudo que posso dizer é que hoje isso vai acabar. Porque eu cansei. — respondeu Gabriel.
A doutora assentiu e se levantou da mesa, indo até a sala pegar sua bolsa. Já tinha de ir para o hospital. Foi até o homem e colocou a mão sobre seu ombro. Quando ele se virou, ela fez um leve carinho em seu rosto, sucedido por um rápido beijo de despedida.
— Tem uma chave embaixo do carpete da porta. Fique o quanto precisar. — disse a médica se retirando.
Antes dela se afastar, Gabriel puxou sua mão e disse um “obrigado” por tudo que ela vinha feito por ele e pelo grupo. Ela sorriu para ele e então o mesmo permitiu que ela fosse ao trabalho.
Após a doutora sair, o rapaz lavou seu rosto e se olhou no espelho. Começava a pensar enquanto via seu próprio reflexo. Olhava seus leves cortes e pensava em Will, olhava para sua expressão preocupada e pensava no que aconteceria com ele e o grupo. Balançou a cabeça se livrando desses pensamentos e foi até o bar se encontrar com os outros.
Chegou nos Sadboys e cumprimentou Lana e Bad Assher que estavam no balcão. Fez apenas um aceno com a cabeça. Entrou na sala de reuniões e lá estava Dwight e Chris sentados nas laterais da mesa e Will na ponta. Ele e o negro trocaram olhares mas nada disseram um ao outro, ele apenas se sentou junto dos outros e começou a ouvir o plano do líder.
Will explicou novamente sobre o acordo com Josh e que o mandaria para o lugar errado. E que marcou um encontro com os russos no galpão Sokolov, onde eles levariam as armas da Dama e a garota em troca de proteção. Falaram dos planos da máfia de roubar suas armas também, por isso marcaram no galpão pois caso Lazarus tentasse alguma coisa, eles estariam preparados.
— Como entregaremos a garota para os russos? — perguntou Dwight.
— Levaremos o corpo dela junto com as armas. Explodiremos o lugar antes de entregar para eles.
Gabriel arqueou as sobrancelhas ao ouvir aquilo e fora obrigado a tomar a palavra:
— O plano então é fazer os russos e os italianos ficarem no mesmo lugar e explodir o galpão? Você não acha que isso contar demais com a sorte? E como diabos vamos explodir aquele lugar?
— Quando todos estiverem dentro do galpão, iremos até nossa SUV, e em vez de entregarmos o corpo e as armas explodiremos os tanques de combustível que há no lado de fora. — respondeu Will olhando para Gabriel. — Se tiver algum outro plano em mente, sinta-se à vontade para compartilhar com a gente.
O rapaz apenas balançou a cabeça inconformado com aquele plano suicida. Chris e Dwight se entreolhavam devido ao tenso clima que fazia naquela sala.
— Então vamos fazer isso. — disse o negro batendo a mão na mesa e saindo da sala.
Inconformado com aquela situação, Gabriel se levanta e sai com pressa do bar. Dirigiu em alta velocidade até o departamento de polícia, onde exigiu que um dos oficiais que cuidavam da entrada chamasse Josh.
Ficou andando em círculos na porta do D.P, até que o detetive saiu lá de dentro ficando surpreso ao vê-lo ali. O rapaz foi até ele e começou a falar:
— Eu preciso que você me escute atentamente. — seu tom de voz era nervoso. — Will deu para você o endereço errado das armas e do encontro dos mafiosos.
Josh franziu o cenho e começou a ouvir o que Gabriel tinha a lhe dizer.
— Eu te dou o lugar correto mas preciso da garantia que nenhum dos meus amigos sejam incriminados juntos.
— Se eles estiverem envolvidos eu terei de prendê-los. — falou o detetive. — Por que Will me daria o endereço errado?
— Porque não será um encontro de máfias apenas para tráfico e troca de garotas sequestradas. Serão duas ameaças para Will juntas no mesmo lugar.
Ao ouvir aquelas palavras tudo ficou claro para Josh. As máfias estariam ocupadas resolvendo suas diferenças que nem mesmo notariam que estavam numa armadilha do negro para acabar com seu maior perigo.
— Qual é o endereço verdadeiro? — perguntou Cohle.
— Não antes de você me garantir que isso não cairá nos Sadboys.
— Se eles estiverem lá não há nada que eu possa fazer, Gabriel.
— Eles não estarão. — respondeu o rapaz com uma expressão de que possuía um plano em mente.
Já estava anoitecendo e estavam todos reunidos na casa do Bad Assher fazendo os preparativos. Todos armados com AK's e glocks. Já havia pegado as armas nos galpões que Cézar emprestara e o corpo de Claire no açougue.
Chris viu Dwight checando suas munições e começou a lembrar da promessa que fez a Barbara de proteger ele. Esperava que fosse possível fazer aquilo.
Estava tudo pronto e os Sadboys foram até uma SUV preta que conseguiram para realizar o plano de Will. Bad Assher dirigia o veículo, enquanto o negro ia no banco caroneiro e os outros na traseira junto das armas e do corpo da italiana que estava num saco preto. O velhote ia dar a partida na van quando o celular de Will tocou. Era Johnny, e o garoto falava tão alto que pudera ser ouvido pelos outros.
— Pai, tem alguns caras atrás de mim. Eu não fiz nada, pai, eu juro!
— Onde você está? — perguntou preocupado Will.
— Em casa. Eles estão aqui, pai. Vem logo! Eles estão armados!
O grupo olhou para o líder sem saber o que fazer. O negro apenas desprendeu seu cinto e falou em alto e bom tom:
— Continuem com o plano! Eu cuido disso sozinho.
Will correu até a picape do velho Bad Assher e se dirigiu até sua casa em alta velocidade. O resto do grupo se entreolhou e Dwight então chamou a atenção deles:
— Vocês ouviram ele. Vamos lá.
O velho assentiu e começou a dirigir a van rumo ao galpão Solokov. Levou cerca de quarenta e cinco minutos até eles chegarem no tal lugar. Era grande e ficava numa trilha que desviava da rodovia que o fazia ser isolado do resto da cidade. Era o lugar perfeito para tráfico de armas.
Estranharam em não ver nenhum veículo por lá. Desceram da van, com exceção do velho que ficou vigiando. E se dirigiram até o armazém. Possuía uma grande porta pela frente, mas eles adentraram a dos fundos.
Para a surpresa de Chris e os outros, o galpão estava vazio. Não havia nem sinal dos russos e de suas armas. Apenas grandes quantidade de feno. Gabriel resmungou um “merda” e começou a falar:
— Eles eram para estar aqui. Eles eram para estar aqui! — berrou.
— Do que você está falando? — perguntou o loiro franzindo o cenho.
— Johnny não está em perigo, eu pedi para que ele atraísse Will até lá. Eu fiz um acordo com Josh, entregando o real local do encontro das máfias e das armas. Eles eram para estar aqui! — voltou a resmungar.
O galanteador do grupo levou uma das mãos a cabeça após ouvir que tudo estava indo por água baixo. Dwight agachou-se e começou a negativar a si mesmo. Ouviram um barulho de motor de carro o irlandês foi até a porta checar. O ruivo fez uma cara espantada com o que viu e falou para os outros:
— Bad Assher deu o fora daqui!
— O que? — perguntou confuso Chris que ia em direção da porta checar.
A atenção dos três foi chamada pelas portas frontais do armazém que se abriram. Seus corações bateram mais forte achando ser os italianos. Porém, para sua sorte, ou não, era Josh e Anna entrando com escopetas e coletes. Apontando as armas para eles:
— Soltem as armas e deitem no chão! — berrou a agente.
Os três ficaram sem o que fazer e soltaram as AK's no chão. Haviam entendido porque o velho fugiu dali, viu os policiais e se certificou de que não encontrassem eles com as armas e a garota.
O detetive se aproximou de Gabriel e estranhando aquele lugar vazio, perguntou:
— Onde estão as malditas armas e os mafiosos?
O celular de Dwight começou a tocar e o irlandês fez um sinal de paz para os dois policiais ali e atendeu. O que ouvira não o agradou, desligou com rapidez e falou para os parceiros:
— Era o Bad Assher. Os italianos estão vindo!
Josh e a agente se entreolharam e a mulher puxou seu rádio, prestes a chamar reforços. Chris parou e olhou para Dwight e Gabriel, começou a raciocinar rápido e pensar em algo.
Quando a agente Danvers ia falar algo no rádio um som de tiro ecoou pelo galpão. Chris puxou sua glock e atirou na nuca da mulher, que sujou Josh de sangue. Dwight e Gabriel olharam assustados sem entender.
O detetive apontou a escopeta para o loiro assustado, que apenas ignorou a arma e começou a falar com os parceiros.
— Deem o fora daqui agora! — virou-se para Josh. — Abaixe essa maldita arma! Eu não vou te matar.
— Chris, o que você está fazen… — ia perguntar Dwight quando fora interrompido.
— Lazarus não compra armas, ele as rouba. Todas as armas que eles e seus homens tiverem são ilegais, será o suficiente para a polícia prender todos eles. — explicou Chris com pressa. — Eu ficarei aqui e enrolarei os italianos enquanto Josh chama o reforço.
— Gabriel, vá. Ficarei aqui com Chris. — disse o irlandês.
— Barbara está grávida! — falou o loiro deixando Dwight sem reação.
Não haveria outra maneira de fazer o seu melhor amigo o deixar ali, fora obrigado a contar para ele naquele momento. O ruivo sem reação estava prestes a dizer outra coisa mas o amigo não permitiu.
— Ela precisa de você, Phillip! Vão logo vocês dois! — falou para os amigos.
Gabriel olhou para o Josh, para ver se o detetive faria algo. E então ele apenas pegou o rádio da agente e assentiu para os dois, num sinal de que pudessem sair. Chris se despediu dos dois e encaminhou eles para saírem pelos fundos.
— Aqui é o detetive Josh. A agente Danvers foi baleada. As equipes podem se dirigir até o local. — falou pelo rádio.
Chris encarava o corpo da agente no chão. Sentia pelo que fez mas não tanto se pensasse que livrou seus amigos da cadeia. Teve seus pensamentos interrompidos por Cohle que falou sério:
— Sabe que será preso, não é?
O loiro olhou para as portas frontais do armazém e começou a ouvir barulho de motores de carro. Provavelmente os italianos.
— Apenas se esconda logo e aguarda o reforço chegar. — disse olhando para frente.