PRÓLOGO
"Things will never be the same
Still I'm awfully glad I came
Resonating in the shape of things to come"
Midnight, Red Hot Chili Peppers
Still I'm awfully glad I came
Resonating in the shape of things to come"
Midnight, Red Hot Chili Peppers
O mundo mudou.
- Vai tomar no cu, seu viadinho de merda!
O homem disse isso largando o seu headset, após observar o seu avatar sendo varado pela bala de um camper, escondido por explorar uma falha no jogo.
Ele levantou do sofá, e desligou o videogame – “sua múm...” – antes de ouvir o resto do xingamento, tentando entender o que sentira.
Coçou a cabeça devagar e levemente, puxando os cabelos para trás, olhando para o papel de parede, intrigado. Sabia que o mundo havia mudado, mas não conseguia colocar o dedo no que era.
Não houve explosões, não passou um cometa por sua cabeça – pelo menos não que ele soubesse – nem naves alienígenas estavam de passagem. Tudo estava igual, no mesmo lugar, nada mudara, e ainda assim, estava diferente.
Voltou-se para a sacada, e foi em direção à ela, abriu a porta com força, não se importou com o frio que entrava, e olhou para fora, os outros prédios, as casas, procurando algo que indicasse o que realmente poderia estar mudado.
Olhou para o céu, e apesar de sempre se gabar de ter visto o pôr-do-sol verde “umas duas ou três vezes”, também não achou o que procurava.
Rapidamente, foi ao banheiro, e olhou a imagem no espelho, ver se poderia dar um melhor indício do que acontecera, pois sabia que independente do que fosse, tinha acontecido com ele também.
Nada. O cabelo ainda era acinzentado, com vários fios ainda enegrecidos, mas a transição para o branco estava evidente. Os olhos ainda eram verdes, com o mesmo desenho da íris, pelo menos que ele soubesse. Chegou a se pesar para ver se havia qualquer diferença. Bochechas, nariz, orelha, genitais.
- Foda-se, já estou querendo ver coisas onde elas não estão. – Disse alto, como costumava fazer, hábito adquirido tanto tempo trancado e sozinho.
Foi até o quarto, e começou a se vestir. Botas militares, calça térmica, seu casaco verde-escuro que cobria além dos quadris, e finalizou com uma pasta com a alça cruzada pelo peito, largada para trás de seu corpo.
Sabia o que teria de fazer.
Abriu a gaveta mais baixa da mesa do escritório, abriu as plantas das pontes da Ilha, e revisou, como tantas vezes já havia feito, e sabia que tudo estava decorado. Jogou-as na lixeira, e ateou fogo.
Abriu a porta e saiu para o corredor. Saindo do elevador estava o casal do apartamento do lado, que se dirigiu à ele:
- Boa noite, Sr. Alastair, resolveu sair para dar uma volta? Disse a garota, tentando ser agradável.
Sem nem os olhar, ele entrou no elevador e apertou o botão. No que a porta fechava, ele respondeu:
- Sim, vou explodir as pontes. Ele disse seco, pouco se importando com o que pensariam ou se levantaria suspeitas de qualquer coisa.
- Falei para não conversar mais com esse velho – Disse o rapaz, e complementou: ele te mandou se foder nas língua idosa dele.